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Saudações a vocês pelotão do Altíssimo na Terra. Como vão?

Os shows de televisão e programas em geral são veículos de ideias. O mundo dispõe de um arsenal variado de atrações a fim de levar sua agenda, seus produtos e ideais a cabo.
Para nós, cristãos, sempre nos coube analisar cada coisa que nos eram expostas, a fim de averiguar se era algo edificador ou não, e continuamos o fazendo ainda mais nos dias de hoje.

Sempre houve uma necessidade, ou um anseio, de atrações que, de fato, nos identificarmos, no sentido de enxergar personagens cristãos, algo com o que possamos descansar de frente ao computador ou a TV sem medo de algum sofisma do maligno estivesse a espreita, mas é preciso dizer que é corriqueiro a proposta de programas cristãos não trazer um algo a mais, algo que pudesse evidenciar o dom criativo que nosso Senhor nos presenteia e, ao mesmo tempo, carregasse sua mensagem tanto para os fiéis, como para aqueles a quem precisam ser resgatados.

Hoje trago a vocês, com imensa alegria, um dos responsáveis por ter tentado trazer a tona um seriado que seria certamente algo pioneiro nessa necessidade: algo com temática cristã com linguagem jovem, criativa, empolgante e com contornos nada convencionais.




Renato Criatura é um exímio diretor, produtor e expert em efeitos especiais com vasta experiência no mercado. Seu currículo abriga pérolas que fizeram a felicidade e moldaram o repertório cultural brasileiro como grandes sucessos da TV Cultura: Castelo Rá-Tim-Bum e Mundo da Lua.

O profissional foi contatado pela emissora cristã Canção nova em 2008 para levar a cabo uma produção ambiciosa nunca antes produzida no Brasil. A peça consistia num seriado de um super herói cristão com armadura tecnológica, muito similar a estética japonesa dos heróis de tokusatsu.



 
O nome do seriado era Tsebayoth. O exército do Senhor e contaria a história de Samuel, um jovem cristão que encontra o anjo Miguel, instruindo por Deus a guiar os guerreiros Tsebayoth, que deverão combater as hostes espirituais malignas que inspiram o pecado no corações dos homens. Samuel/Guibor possui um traje dourado sagrado entregue por Miguel contendo vários poderes e habilidades.

Confira um pequeno trailer do que seria Tsebayoth:



É com imenso prazer que trazemos a vocês essa entrevista com essa lenda da produção infantil e do tokusatsu nacional.
Aproveitem:



OC: Muito prazer e obrigado por ceder seu tempo, primeiramente se apresente para o público contando um pouco sobre sua história de vida e trabalho.
 
Renato: Bom eu desde pequeno, em torno de uns 3 anos, minha mãe dizia que eu tinha um certo dom pra fazer as coisas como desenhar, pegar gravetos, grampos e criar algumas coisas. Ficava brincando com coisas que ela nem imaginava o que seria. Ela me perguntava e eu dizia:  Uma nave espacial, um dinossauro e etc".

Isso se estendeu pra minha vida inteira, na adolescência eu fazia maquiagens com massa de pão, aplicando um tema de terror, dando um aspecto de machucado e assim por diante.
 
Com 20 anos eu acabei ingressando na área de efeitos especiais na TV Cultura, me abrindo espaço pra muita coisa, muitos trabalhos, muitos contatos, foi lá onde eu tive o privilégio de fazer parte da equipe do Castelo Rá-Tim-Bum, Cocórico, Mundo da Lua, X-tudo, Glub-Glub. Todos esses programas teve parte criativa de nossa parte do setor criativo onde eu fazia parte, criando personagens, adereços, efeitos e etc.

Renato compôs a equipe de efeitos por trás do saudoso Castelo Rá-tim-bum.
Após muito tempo trabalhando na emissora, eu saí e criei minha própria empresa chamada "Criando Criaturas", que anteriormente se chamava "Making of Studius", mas por conta das pessoas não entenderem o nome usamos este.  Foi nesse meio tempo que fomos procurados pelo pessoal da Canção Nova, que ao ver os trabalhos que tínhamos feito pela Internet e outros meios, eles viram que nosso perfil se encaixava no que procuravam.

OC: O que foi o Projeto Tsebayoth? Qual a inspiração e o intento do projeto?



Renato: O projeto Tsebayoth foi um dos projetos mais incríveis que eu ja fiz. Para mim, particularmente, superou todos os produções da TV Cultura. 
Ao contrário das produções televisivas que tinham patrocínios, este não contou com isso, ele foi feito através de doações. Os cristãos que frequentavam a igreja davam donativos para que a série pudesse acontecer. Foi um projeto bem interessante. 

A idéia surgiu através do Felipe, um dos membros da Canção Nova, juntamente com o Pitter (que era o personagem Samuel em Tsebayoth), um dos responsáveis pelo Cantinho da Criança (um dos programas da grande da emissora) ambos pessoas fantásticas, eles tiveram a ideia de juntar esses dois aspectos: o tema cristão com a temática do tokusatsu e consequentemente me chamaram (risos). Eles tiveram a ideia de aliar um tema oriental com algo cristão, um grande desafio pra mim.


João E Renato, os sócios da Criando Criaturas.
Pensamos no conceito, com a ajuda do meu irmão e sócio, João Santos (conhecido como "João Criatura") que cuidava do roteiro e de outros detalhes dos bastidores da produção e também com o Jaime que era o treinador do elenco e o resultado foi algo inédito que jamais poderíamos imaginar: uma fusão de temática cristã com ares de super herói japonês.
Chegamos a alguns resultados e eu fiz as armaduras. Ao apresentar aos responsáveis, eles ficaram bobos, fato de que não tinham visto tal qualidade antes.

Guibor em ação.

Houveram algumas tentativas e até um piloto que tentaram fazer, mas muito rudimentar. Nossas gravações foram vistas com bons olhos e permanecemos no local das gravações por um ano, que era na cidade de Cachoeira Paulista. Foi um dos melhores momentos da minha vida. Lembro com saudades daquela época, foi realmente emocionante. Aquele ambiente abençoado, o esforço diante dos desafios de algo novo, a criatividade fluia naquele clima de boa energia. É um sentimento inexplicável.

Renato e seu irmão e sócio João Criatura montando o herói.

OC: O senhor atuava?Qual era o papel dentro da história e, por ventura, outras competências na produção?

Renato: Eu atuava sim, meu papel era o anjo Miguel. Não estava previsto, na verdade a ideia era que o personagem seria um rapaz negro. Eu achei a ideia sensacional, ora por que não? Fugia muito da ideia européia dos anjos de olhos azuis e etc. Para Deus não tem isso, Ele criou todas as raças, se for da sua vontade ele poderia muito bem tomar qualquer forma até como um japonês (risos).

O anjo Miguel vivido por Renato em Tsebayoth - O exército do Senhor.
Todos acharam uma ideia muito boa também. O ator seria um rapaz chamado Elandro, alguem muito simpático que você podia ver a bondade expressa em seu rosto. Ele trabalhava conosco em outros setores e infelizmente por conta desses trabalhos ele não conseguiu gravar, visto que nossas gravações tinham um ritmo muito restrito, eram duas gravações por semanas à tarde. Não restando opções eu tomei a frente, a roupa e ajeitei os cabelos.

Além desse papel eu era responsável pela edição, adereços, figurinos, ajudava na cenografia. Já que minha área é a de efeitos especiais, isso exige que você conheça todo o processo. Em todo tipo de empresa tem que ter um "quebra-galho" (vulgo "Severino" nota do entrevistador).


Renato e o ator Pitter Di Laura que interpreta Samuel/Guibor.

 OC: Qual era o público alvo? Havia interesse de ir para a TV?

Renato: O público era livre, todas as idades e sim, o projeto visava ser uma produção para a TV. Através da Canção Nova que é uma emissora presente em vários países. O planeta veria essa nossa aventura: Tsebayoth - O exército do Senhor.

 
OC: Quais foram os maiores desafios da produção?

Renato: Meu amigo, como todo lugar: dinheiro. Dinheiro e tempo precisamente.

Havia um ponto em particular que era um certo obstáculo:
Nós que não estamos tão ligados a uma instituição religiosa temos uma certa "cabeça aberta", já as pessoas envolvidas na produção na época sentiam-se um tanto travadas em algumas questões. Exemplo como: temos que retratar os pecados capitais, os sete pecados capitais não são coisas boas, eles acabam com a humanidade. Eu tinha que representar eles e fiz vários esboços e artes dos personagens. Ao apresentar eles diziam que estava muito obscuro, ou representar o diabo por exemplo, a sua representação clássica é com chifres e rabinho. Eu imaginava fazê-lo mais elegante, com um ar mais enganador com o qual ele se apresentaria para seduzir com sua conversa, mas a ideia não era aceita.


O consenso para o figurino dos vilões ficou com a inspiração da ideia do ceifador da morte, o que não deixou de nos trazerem criticas como uma alusão aos Nazguls de Senhor dos Anéis, fazer o que.





Alguns visuais dos vilões da trama.

Quem estava responsável por ler e aprovar nossos roteiros era o o padre Carlos, era um senhor mais consciente e entendia que tinhamos que ilustrar de fato a coisa, era algo muito diferente de algo mais literal como uma missa.
Então resumindo: Dinheiro, tempo e essa dificuldade por adaptar de uma forma aceitavel alguns termos e situações na história para algumas pessoas mais fechadas.


OC: A fórmula é muito similar aos heróis japoneses que usavam um traje ou armadura especial na hora da ação. Houve inspiração direta de algum herói de tokusatsu? Aprecia o tema?

Sim, foi uma forma de assimilar os herois japoneses. Essa ideia do herói se transformar, bem caracteristico do gênero tokusatsu. Era a proposta original. Não houve uma inspiração direta de nenhum em particular. A ideia das cores do amarelo vinha da ideia do ouro.


Desenhei e criei o visual. Gostaram muito da armadura, cheia de detalhes. Elas eram feitas com EVA, com todo um tratamento, pintura e reforço. Após as gravações ela sujava mas era fácil de limpar.



Keddar vs Guibor

Eu aprecio sim. Claro, cresci assistindo as séries Ultraman, Ultraseven, Robô Gigante, Spectreman, Vingadores do Espaço e etc. Me foram uma inspiração, eu dizia pra mim que queria trabalhar com isso. Eu quero trabalhar com isso, eu dizia quando era pequeno. Foi o trabalho mais incrível que eu fiz na vida nesses 32 anos de carreira. Eu gostaria muito de continuar com esse trabalho. Foi muito gostoso de trabalhar com isso. Se tem um desejo profissional que eu gostaria de realizar era terminar esse trabalho.

OC: Existe ainda a possibilidade de retorno do projeto?

Não, infelizmente não. Toda a equipe se dispersou. O projeto foi encostado. Tinha várias coisas prontas mas virando o ano infelizmente não rolou. Eu tenho vontade de fazer por mim mesmo, teria outra temática. Eu confesso que seria mais ousado pois era um tanto restrito algumas ideias naquela época em virtude da denominação.

OC: Foi seu único projeto com essa temática de herói e, também, com tema cristao?

Com heróis não.
Ja fiz outras coisas como Turminha da Arca, que era um trabalho com boneco no estilo Muppets.
Bonecos pro Cantinho da Criança.
Os camaradinhas, uma produção com temática Cristã também.
É um trabalho leve e gostoso de fazer.

OC: Como o senhor enxerga o cenário de entretenimento visando uma temática cristã? É um terreno fértil a se arar? 

Sim é um terreno bem fértil sim. Temos muitos jovens que tem potencial e que tem o tema cristão enraizado. São pessoas leves e fáceis de se lidar, com um bom coração. É algo que precisa ser feito para alcançar essa galera.


Veja bem o tempo muda. O projeto Tsebayoth foi há 12 anos. Se eu fosse retratá-lo hoje, teria que reformular. Hoje as crianças são "ligadas no 220", imersa nesse mundo atual de mídias velozes. Temos que nos ater a esse ritmo também.


Veja um exemplo da diferença dos filmes cristãos antigos com os atuais: Pegue um filme de Cristo de 1930 e o atual do Mel Gibson. O ritmo antigo era muito mais lento. Já o atual é mais emocional. Pega mais impacto e a sensação do sofrimento que Nosso Senhor passou. Você sai mais manso depois ver uma produção assim.


Tem que haver mais investimentos e iniciativas de produções assim, mas também é preciso ter uma visão mais flexível para conversar com os tempos atuais.


Você oferece algo mas com uma forma diferente da tradicional, mas com a essência intacta, contudo isso enfrenta um tanto de resistência.
É preciso, sobretudo no nosso meio evangélico, alguém que tenha essa flexibilidade para passar as ideias.

 
OC: Suas considerações e conselhos para quem almeja também criar histórias para a cena cultural brasileira.
 
Primeira coisa: ACREDITE EM VOCÊ. Você tem uma ideia, a ideia é sua. Você precisará de pessoas para realizar essa ideia. Como Walt Disney dizia:
 
"- Para realizar os seus desejos, os seus sonhos, você precisa de pessoas."


Um equipe faz toda diferença. João Criatura, Pitter e Renato.
Coopte pessoas, você precisa delas, você não precisa de sócio, não precisa de conselhos, você precisa de pessoas. A ideia é sua, ela é pura, ela é boa.
Não deixe sua ideia deixar de ser original. Não se deixe levar por opiniões que se digam técnicas, acredite em você. Vá, faça, conclua o seu projeto.
Hoje em dia as tecnologias estão muito acessíveis, há quem faça um show de imagens com um celular. Antigamente as dificuldades com isso eram enormes, tenha certeza.

 
Vale mais a criatividade do que encher a produção de efeitos e toda parafernalha possivel. Uma boa ideia vale mais que mil palavras. Trabalhe mais na ideia. Você pode precisar de adereços, carros, figurantes e etc. Ok, mas não se cobre demais ou seja muito pretensioso. 


A magia do seriado está nos pequenos detalhes

Maquetes no melhor estilo Ultraman.

O nosso exemplo com Tsebayoth seguia uma coisa mais pra toda familia em especial a criança, por isso a estética da coisa beirava ao aspecto de brinquedo, no sentido de ser atrativo para as crianças e que tivesse o aval dos pais, que ao bater o olho, veriam algo seguro para seus filhos assistirem. Esse era um dos elementos que inclusive estão nos seriados tokusatsu não é mesmo?


Para quem quiser saber mais sobre o trabalho do sr. Renato eis os links para seus trabalhos:

Página do facebook

Site da sua empresa "Criando Criaturas";

Instagram;

Canal do Renato no Youtube.

Ficam os nossos agradecimentos ao sr. Renato e a você por prestigiar essa entrevista única.

Fiquem com Deus.


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